#EP33: “A sala de aula pode ser tudo. Eu já vi aqui professores a dar aulas dentro de um autocarro”
No 33º episódio do Podcast Isto Não é Pera Doce recebemos Sérgio Lino, Presidente do Conselho de Administração da ALFACOOP – uma cooperativa onde coexistem um colégio privado e uma escola profissional - que implementa o modelo de Educação 5.0.
Se há quem considere que as tecnologias tiram os alunos das escolas, este projeto vem contrapor-se a esta teoria, já que coloca o aluno no centro do processo de Ensino, dando prioridade à integração das novas tecnologias no espaço escolar. Assista à conversa, na íntegra:
Educação 5.0: O que é?
Tecnologia, espaço, pedagogia, envolvimento e emoção. São estas as cinco palavras que, na voz de Sérgio Lino, definem as dimensões que compõe o modelo de Educação 5.0. Uma metodologia de ensino, que visa colocar o aluno no centro do processo ensino-aprendizagem, através da integração das novas tecnologias.
Este projeto tem cinco dimensões. E, neste projeto com cinco dimensões, nós tentamos incluir, porque o projeto não é só a tecnologia. O projeto é também a parte da emoção, a parte do envolvimento, a parte da pedagogia, onde todos os professores, durante o ano, vão tendo formação constante com um formador externo. E, ao mesmo tempo, nós queremos que se desenvolva também as competências socio emocionais do aluno. […] e depois temos os espaços.
Foi a vontade de criar um projeto educativo diferente, em Braga, onde os alunos fossem motivados para a escola e, ao mesmo tempo aprendessem e adquirissem ferramentas para a vida adulta, que fez nascer o modelo de Educação 5.0 na ALFACOOP.
A tecnologia funciona de forma híbrida dentro da sala de aula. A tecnologia serve de apoio aos livros e cadernos. Cada sala de aula é composta por computadores, um para cada aluno, de forma que a aprendizagem possa ser integrada com o que escutam e veem nos livros e pelas pesquisas que fazem, ao mesmo tempo, no digital.
Por exemplo, vamos falar sobre o coração: eles veem o coração a funcionar e eles conseguem perceber o que [o professor] está a falar e depois conseguem ir ao livro. Conseguem fazer aqui uma transição de conhecimentos, pesquisas e conseguem evoluir e perceber o que é que têm de aprender. E essa é a parte fundamental.
A ideia passa por estimular a aprendizagem dos alunos, com o propósito de serem mais autónomos. Por exemplo, além da tecnologia, as salas de aulas são diferentes das tradicionais.
A sala de aula é completamente diferente, temos outro tipo de mesas, umas mesas ovais, onde eles conseguem pousar o computador, conseguem pousar os livros… A própria cadeira está formada para os alunos. Os alunos trabalham em equipa, em grupos de quatro, de três, de dois. […] Eles não estão virados para a frente na sala de aula, como nós aprendemos assim, eles tão ali também para pensar o que estão a aprender. Porque essa é que é a grande questão: é não só adquirires conhecimento, mas também pensares porque é que as coisas funcionam.
Os professores têm de perceber que nós não podemos ensinar as aulas, como ensinávamos há 20, 30 anos
Aplicado desde o pré-escolar ao segundo ciclo e com vontade de o alargar até ao 9º ano já no próximo ano, o modelo de Educação 5.0 percebe a aprendizagem como um processo diferente do tradicional. No entanto, o currículo tem de ser dado, ainda que exista 75% de flexibilidade pedagógica.
Nós temos o currículo para dar. Nós tendo 75% ainda de flexibilidade pedagógica, mas nós o currículo... porque depois chegas ao 12º ano, chegas ao 9º ano, tens de fazer os exames nacionais e os alunos têm de adquirir aquele conhecimento. E, muito bem.
Não é fácil, numa primeira fase, a organização dos guiões, das matérias. Sérgio Lino explica que os próprios professores se vão reunindo, têm um portefólio e vão percebendo o modo como vão lecionar. Pode existir algum desconforto inicial, mas Sérgio afirma ter sorte, pois tem professores que estão voltados para o futuro.
Eu tive aqui a sorte, tenho professores que estão voltados para o futuro. […] Os professores têm de perceber que nós não podemos ensinar as aulas, como ensinávamos há 20, 30 anos atrás. Nós temos que mudar, nós temos que ter os nossos alunos motivados a aprender, para podermos ter sucesso e o nosso sucesso é o sucesso do aluno.
Numa época em que há tanta gente focada nos exames, nos resultados escolares, mas fundamentalmente nos exames que dão acesso depois ao ensino superior, acreditarão as famílias neste modelo? Sérgio Lino recorre aos factos para responder.
Para lhe responder a isso, vou-lhe responder com factos. Nós começamos este projeto em 2018 com 250 alunos, hoje tenho 1050 alunos aqui a frequentar o colégio. É a melhor resposta. É a resposta mais esclarecedora que tenho. Nós somos procurados.
Porque decorar é uma coisa, agora pensar é outra
Convicto da confiança dos pais na metodologia e da satisfação dos professores com quem trabalha, Sérgio explica que o todo é que importa. O todo e não as partes. E, é isso também que é procurado.
O que eu acho é que a criança tem de ser toda ela trabalhada. O todo e não as partes. O que me estava a falar dos exames nacionais são as partes, estamos a falar da memorização. O aluno que tiver a capacidade de memorizar melhor a matéria é o aluno que vai tirar
melhores resultados. Porque decorar é uma coisa, agora pensar é outra. O que nós fazemos aqui, efetivamente, é colocar os alunos a pensar o modelo, a pensar o problema, a pensar como é que podes resolver este problema, chegar à solução mais rápido e não concentrar-te só no problema. Porque, efetivamente, o que nós aprendemos e o que eu aprendi foi a memorizar.
Além de bons alunos, devem ser boas pessoas, afirma Sérgio. A criança deve ter valores, porque acredita que uma boa pessoa chega mais longe que uma má pessoa. E, é isso que tenta passar para os seus alunos. E, para que tal aconteça, é importante que o aluno esteja no centro do processo, com uma educação que implica individualização.
Tocou aí num excelente assunto, que é efetivamente isso. Nós conseguimos também através da tecnologia, existem alguns alunos que aprendem a uma determinada velocidade – uma velocidade muita rápida – e efetivamente esses alunos conseguem pensar sobre essa situação. Esses alunos já vão mais à frente e podem continuar. E temos outros alunos que andam mais lentos, mas que nós conseguimos, ao mesmo tempo, fazer o acompanhamento do próprio aluno.
Esta escola já teve várias vidas
A tecnologia é usada como meio para o resultado, não esquecendo de que existem as outras quatro dimensões que compõe este modelo. Mas, de facto há uma relevância aplicada a esta dimensão.
É importante que eles aprendam a utilizar a tecnologia que é para depois não se dedicarem a 100% só àquilo. E o que os nossos professores fazem efetivamente é isso: ajudá-los a utilizar a tecnologia.
Este modelo tem ainda a particularidade das componentes socio emocionais.
São componentes fundamentais, para que os alunos consigam perceber o mundo, perceber o colega, perceber que deve resolver problemas, perceber que está neste mundo para ajudar este mundo a ser melhor.
Apelidado de maluco quando começou o projeto no 1º ciclo – porque tinha 34 alunos apenas e abriu quatro turmas – Sérgio Lino está orgulhoso do caminho, numa escola que já teve várias vidas.
Nós somos uma cooperativa de Ensino. É constituída por professores. Neste momento sou presidente e tenho 24 cooperadores na cooperativa, que me orgulho bastante. Porque, quando em 2018, que se perdeu completamente todos os contratos de associação, todo o financiamento que tínhamos, tivemos de viver do ensino privado. Vivemos do ensino privado e de dois cursos profissionais que tínhamos, quase sem alunos. Com alguma dificuldade, porque deixaram de acreditar no projeto. Tivemos de revitalizar este projeto todo. Trabalhamos imenso para o revitalizar, mudamos o projeto educativo, mudamos também a nossa forma de atuar no mercado e tentamos ser diferentes aqui em Braga. Hoje, as coisas correram bem e estamos aqui todos satisfeitos.
Assista ao episódio, na íntegra, no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.
Adriana Ribeiro
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