#EP37: “A nossa escola é como as escolas eram há duzentos anos, só que agora existe com tecnologia”
No 37º episódio do Podcast conversamos com um convidado que talvez reconheça pela sua participação na 1ª edição do programa Shark Tank. Tim Vieira. Mas, é por ter fundado a Brave Generation Academy (BGA) que nos chamou à atenção: uma instituição de ensino com metodologias disruptivas.
A Educação está a mudar. Todos percebemos isso. Só ainda não temos a fórmula mágica para acompanhar a mudança. A verdade é que já existem, no Ensino, currículos de aprendizagens que fogem ao padrão e prometem uma experiência educacional única, como é o caso da BGA, defende Tim. Uma atuação educativa que, não tendo ainda homologação por parte do Ministério da Educação, torna ainda mais urgente a revisão de alguns processos de Ensino em Portugal. Assista à conversa, na íntegra:
«A Educação não é só a escola»
No seu tempo de estudante gostava da escola, mas não gostava da forma como aprendia. Tim Vieira, acredita que sempre foi um pouco diferente, enquanto aluno. Mas, foi mais tarde que teve certezas: quando foi pai e percebeu que a Educação não é só a escola. Há muito mais do que a escola, afirma. E, através das viagens que fez com os filhos, percebeu neles que dinâmicas de aprendizagens diferentes resultavam num grande desenvolvimento. Os filhos são, portanto, espelho daquilo que pensou para a Brave Generation Academy, um modelo diferenciado do Ensino que coloca em primeiro lugar o que é melhor para o aluno.
Pensamos tudo diferente. O que é o melhor para a criança? Não o que é melhor para a BGA, para o Tim Vieira, para o pai. Não. Mas, o que é melhor mesmo para a criança. Se conseguirmos fazer isso, o resto acontece. É natural.
A BGA está aberta o ano todo, num modelo de ensino flexível, onde as aulas ficam disponíveis numa plataforma, sem obrigação de horários. O aluno tem uma timeline a cumprir e, é da responsabilidade dele se o consegue executar em três, quatro ou cinco dias. Além disto, é uma Academia espelhada por vários Hubs no país, onde os estudantes interagem sempre uns com os outros, independentemente da idade e do nível de ensino.
Aquela mistura dos 12 anos aos 18 ajuda muito. Há mais empatia com os mais velhos, com os mais jovens, etc. Então, ajuda mesmo muito e vemos que isso é uma grande vantagem.
Segundo Tim Vieira, A BGA atrai três tipos de crianças: aquelas muito académicas – que querem ser mais rápidas, querem fazer muitas cadeiras; aquelas que são de desporto –os olímpicos, surfers, skaters, rugbi, futebol -, que estão lá porque precisam de flexibilidade; e aquelas crianças que precisam de ir um bocado mais devagar, precisam de um bocadinho mais de tempo.
Neste sentido, a Academia compreende mais do que um currículo.
Comecei a pensar mais. Comecei a ver os currículos diferentes. Escolhi o British International, porque era conhecido há volta do mundo e tinha flexibility. Que é importante. Conseguiam escolher para onde é que queriam estudar, como é que queriam fazer. […] Mas também vimos que havia outras crianças em que o British não era o melhor. Então, trouxemos um outro currículo. Um currículo que, às vezes, pode parecer mais fácil para crianças que não são tão boas em exames. Depois, lançamos agora e estamos a ter muito sucesso, uma app programe, em que aos 16 anos já começam a escolher as licenciaturas – onde temos 142 universidades. Uma criança se quer business, computer science, education, sport management, já vai para esse sentido. Faz connosco dois a três anos e acaba com três meses na universidade e tem a licenciatura da universidade.
Currículos pensados para as necessidades de cada aluno. Necessidades colmatadas também pelo apoio da tecnologia. A BGA é uma academia que usa a tecnologia como sua aliada e, uma das grandes vantagens, é a possibilidade do acompanhamento individualizado de cada aluno: acompanhar a evolução, a performance. Isto, permite à academia intervir quando necessário.
A nossa plataforma consegue ver como é que a criança está: se está na timeline. A cada segunda-feira eles sentam com o coach e vêm como estão: se estiverem a falhar, [a linha] está no vermelho. Conseguimos ter estatísticas entre hubs.
Parceria win-win
Pensada para os alunos, mas com a consciência da mudança latente no mundo e, consequentemente, na Educação, Tim Vieira reconhece que a única coisa que falta em Portugal é o reconhecimento pelo Ministério da Educação. Uma resposta que não chega há mais de dois anos.
É falta de resposta. São dois anos à espera de uma reunião. É uma pena, porque nós contribuímos, pagamos impostos, pagamos salários e não há respeito.
Na prática, parece-se quase como um convite para os alunos ainda saírem mais do país, para estudarem lá fora e provavelmente depois não voltarem. Isto, porque, como explica o fundador da BGA, as equivalências só não acontecem com o sistema português.
Não conseguimos ter equivalência ao sistema português. Uma criança que vai pela BGA não consegue ir para uma universidade portuguesa, mas consegue ir para qualquer universidade mundial.
Na visão do ex-concorrente da 1ª edição do programa Shark Tank, estamos num tempo em que até as universidades vão sentir dificuldades em atrair novos alunos. Na verdade, umas das possibilidades que Tim vê é a aposta num trabalho híbrido, entre os ensinos público e privado.
Eu acho que até podíamos era trabalhar com as escolas públicas. Havíamos de estar lá já. Na África do Sul é isso que estamos a fazer. Noutros países é isso que estamos a fazer. Estamos agora a começar até a pôr BGA’s em escolas primárias, que já conseguem ter uma BGA que já dá para a escola continuar. Porque há escolas que precisam, mas não conseguem fazer mais salas, mais aulas e ter mais cadeiras e professores, porque não se encontram professores.
Um trabalho em conjunto permitiria, na ótica de Tim, assegurar algumas necessidades que a escola pública, em certos momentos, não consegue responder. Uma parceria, onde o vencedor seriam os portugueses.
Havia de haver uma parceria privados e públicos, mas numa maneira de haver um win-win aqui. E, no fim ganha, o win maior são os portugueses.
«A nossa Educação está a correr um bocado atrás da sociedade»
Até que aconteça ou que pelo menos alguma coisa mude, é preciso que a mudança também aconteça a nível social. Parece existir, hoje, uma desconfiança das iniciativas privadas. É, pelo menos isso, que sente Tim, quando, na verdade, só querem trazer soluções.
Sinto, porque obviamente o que queremos trazer hoje em dia são soluções para a Educação, que fazemos para os dias de hoje. Já nem estamos a falar para o futuro. Para o hoje. A nossa Educação está a correr um bocado atrás da sociedade. A Educação devia estar à frente. Devia ser quem puxava a sociedade para a frente. Mas não estamos.
Precisa, por isso e por exemplo, de existir experiência empresarial de inovação, de empreendedorismo, da nossa classe política. Mas, Tim, vai mais além:
Precisamos de ser mais dinâmicos, precisamos de ter uma visão para o país, precisamos de conseguir fazer este país mais competitivo e precisamos de deixar os nossos empreendedores trabalharem, criarem: criarem riqueza, fazerem projetos. Tudo aquilo que, às vezes, parece difícil. Eu acho que se os nossos políticos percebessem mais disso, se calhar saíam um bocadinho do caminho, deixavam as coisas crescer. Conseguiam perceber que menos burocracia, menos Estado, faz as coisas andarem para a frente, faz as pessoas ficarem cá. Guarda o talento aqui. Começa a fazer-se um ecossistema onde as pessoas criam e, de um momento para o outro, temos crescimento para todos. Não é só para alguns. O país quando cresce e quando as coisas começam a andar para a frente, leva tudo.
Mas, para tudo isto é preciso começar. É preciso existir vontade.
Se não há vontade, é criminal. É criminal. Isto é o nosso futuro. E estamos a roubar isto da pessoa. Estamos a roubar mesmo.
Porque, no final de contas:
A nossa escola se calhar é como as escolas eram há duzentos anos atrás: eram escolas com crianças com idades diferentes dentro de uma sala. Então, já existiu. Só que agora existe com tecnologia, o que é ainda melhor.
Assista ao episódio, na íntegra, no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.
Adriana Ribeiro
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