#EP41 Jogos sérios: «um fator acrescido de motivação para o aluno»
No 41º episódio do Podcast falamos com Hugo Barbosa, doutorando na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com o desenvolvimento da tese no domínio de Jogos Sérios. E, é mesmo este o tema que nos traz aqui hoje: jogos sérios.
No 41º episódio do Podcast falamos com Hugo Barbosa, doutorando na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com o desenvolvimento da tese no domínio de Jogos Sérios. E, é mesmo este o tema que nos traz aqui hoje: jogos sérios.
Com uma vasta trajetória profissional no âmbito da Educação, Hugo já lecionou em vários níveis de ensino e, neste episódio, conta-nos como os jogos sérios podem contribuir como complemento para o Ensino e serem uma motivação para o desempenho do aluno na escola. Assista à conversa, na íntegra:
«Pode ser um complemento ao sistema de ensino profissional»
Quando ouvimos falar em jogos sérios parece, à partida, uma contradição, porque são duas palavras que não imaginaríamos que se combinassem: jogos sérios. Mas, o facto de serem sérios, não quer dizer que os jogadores não se divirtam. Afinal, em que consiste este conceito?
Os jogos sérios são aplicações interativas baseadas em jogos. No entanto, têm uma vertente pedagógica, uma vertente informativa, mais educativa e não tanto o jogo lúdico. Portanto, há um fator para transmitir conhecimento ou alguma habilidade. […] Um jogo lúdico pode ser considerado um jogo sério se cumprir alguns requisitos, algumas considerações, em que um deles ser mesmo a transmissão de alguma habilidade, algum conhecimento.
Nem todos são a favor do termo jogos, porque, normalmente, quando se joga é algo improdutivo, mas o conceito de jogos sérios não entra em contradição e até transmite se calhar bem o conceito. Hugo Barbosa concorda e acrescenta poderem ser usados como um complemento ao sistema de ensino tradicional:
Sim, aliás, até pode ser um complemento ao sistema de ensino tradicional. A ideia do termo jogo associamos sempre aqueles grandes jogos de grandes massas a jogar no computador e, por vezes, até com alguma dependência. Mas, aqui o termo jogo sério seria mesmo esse, de complementar algo que fosse pedagógico, educativo, informativo.
E em todos os níveis de ensino:
Eles podem ser usados em qualquer nível de ensino, desde o pré-escolar até ao ensino superior. Tem é que ser, obviamente, adaptados aos diferentes níveis de ensino. Ou seja, ao perfil do aluno. Atualmente, já há fundos universitários, já há faculdades que estão a implementar nas suas unidades curriculares, assim como no ensino secundário, mais nas áreas tecnológicas já começam a usar. É um fator acrescido de motivação para o aluno.
«Com o uso daquele jogo em concreto estavam a aprender e nem reparavam que o estavam a fazer»
Aplicado aos vários níveis de ensino, que vantagens poderá trazer o jogo para as aprendizagens? Hugo Barbosa nomeia a motivação, o feedback, a pontuação e memória.
Uma das principais vantagens é a motivação para quem joga, neste caso. Tipicamente o aluno, mas não só. Porquê a motivação? Porque estamos a falar do uso da tecnologia, algo que há uma interação constante, tem os objetivos de atingir novos patamares, que isso também é umas caraterísticas de um jogo sério, que é ter vários níveis de complexidade, de desafios. Ou seja, ir-se progredindo. O feedback, ou seja, há o feedback constante. A questão da própria pontuação. Os outros jogos também têm pontuação, isso é típico de um jogo, mas a pontuação pode ser vista como uma recompensa ou pretende-se que seja vista como uma recompensa neste caso, e não com o objetivo de ganhar face à concorrência. […] Os jogos sérios podem trabalhar, por exemplo, duas grandes áreas, a parte cognitiva ou a parte física, pode permitir facilitar tipicamente na parte cognitiva a memória.
E, por falar em pontuação, um jogo sério poderá alimentar uma competição entre os colegas? Hugo Barbosa diz que é possível sim, num sentido pedagógico.
Sim. Depende da sua prática em salas de aula. Por exemplo, pode ser levado com a competição entre colegas numa sala de aula, mas num sentido pedagógico. Por exemplo, organizar um trabalho de casa.
Nos primórdios da sua criação, os jogos sérios foram criados como parte da simulação de treino, por exemplo, na área da saúde, na área militar e até nos simuladores de voo. Mas, mais atualmente abrangeu-se ao sistema educativo, que já tem várias opções disponíveis. No entanto, acredita Hugo, é preciso mudar as estratégias de aprendizagem.
Mas, mais atualmente, abrangeu-se imenso e o sistema educativo tem muitas opções, umas mais antigas, umas mais recentes, umas mais testadas, outras menos testadas. Mas, todos eles com boas experiências e bons resultados. Aqui gostava de salientar que é sempre um complemento. […] . É um complemento, mas temos de mudar as estratégias, os métodos de aprendizagem. Têm que ser adequados e adaptados, em cada sala de aula e cada docente, porque nas faculdades também já se começa a dar formação e a falar muito de jogos sérios.
Como professor, Hugo Barbosa também já usou os jogos sérios nas suas salas de aula. Dando um exemplo concreto, utilizou os jogos no ensino secundário, num estudo com alunos do 10º ao 12º ano, onde o objetivo era que os alunos aprendessem a programar.
A nível do secundário, um estudo muito interessante com alunos do 10º ao 12º em que foi para a vertente da literacia dos oceanos, mas também para a parte da programação. Portanto, para aprenderem a programar. Com o uso daquele jogo em concreto estavam a aprender e nem reparavam que o estavam a fazer. [O jogo utilizado foi o] Minecraft, versão educação. Já tem muitos anos, mas está sempre a ser ajustado às necessidades. Eles estavam a aprender, não reparavam e depois quando eram feitas questões não sabiam. Mas, atenção, fazendo a analogia ao jogo, explicando, já perceberam. Notou-se que foi uma facilidade de aquisição de conhecimento.
«Há um mercado que está emergente»
A conceção destes jogos exige aqui conjugar pedagogia, a arte do design e a tecnologia. Dessa forma, tanto o professor precisa de ter alguma noção de tecnologia, como também a indústria, por exemplo, que os produz tem de estar muito bem assessorada na área da pedagogia. A este nível, Hugo Barbosa destaca que existem já algumas faculdades, nas suas unidades curriculares, que criaram jogos sérios.
Atualmente, e o mercado, mesmo em Portugal, já começa a evoluir muito. Ou seja, temos muitas empresas já a construir jogos, jogos de uma forma geral, mas também temos viradas para jogos mais pedagógicos, os tais jogos sérios. E, depois, temos aqui também um novo paradigma, que é: muitas das faculdades, nas suas unidades curriculares já criam jogos sérios. E, então, temos aqui nas faculdades que têm não só uma vertente tecnológica, mas também uma vertente de design e, muitas das vezes, a vertente pedagógica para o jogo. Mas, também já começa a haver aqui, que é importante, uma junção de interesses entre o mercado comercial – as empresas – e a parte das faculdades, que tem um conhecimento também tecnológico, mas também tem o pedagógico.
Os jogos sérios são um mercado em emergência, porque, acredita Hugo, as escolas querem cada vez mais motivar os alunos.
Há 20, 30 anos atrás era um paradigma completamente distinto de agora. Agora, vê-se que há um mercado que está emergente. Portanto, as escolas querem cada vez mais motivar os alunos, querem cativar os alunos, porque em contexto sala de aula com alunos mais motivados, com toda a certeza, o conhecimento surge com muita maior facilidade. Então estas técnicas e estas tecnologias de jogos sérios começam a ser usados.
Embora estejamos a falar de jogos, não tem de ser um contrassenso com educar, afirma Hugo. No entanto, o seu uso merece supervisão. E, o mesmo, explica porquê.
E, aqui, também depois temos só de ter em atenção que é: estamos a falar de tecnologia, de jogos, jogar, que parece um contrassenso, com o aprender, o educar. Não tem que ser. Mas temos de estar cientes que jogar de forma orientada, ou seja, com supervisão, com um contexto, com uma finalidade sempre de aprendizagem e com a vertente pedagógica também sempre presente, para não entrarmos depois naquela questão do vício.
Na questão dos jogos sérios existem os dois lados da moeda: aqueles que são a favor do seu uso no sistema educativo, e aqueles que são contra. Porém, afirma Hugo, há um consenso: «os jogos sérios trazem motivação e trazem resultados».
Assista ao episódio, na íntegra, no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.
Adriana Ribeiro
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