#EP36: “Um vereador da Educação é, efetivamente, um gestor, ou deverá ser, um gestor de projetos educativos. Deve estar centrado no aluno”

O 36º episódio do Podcast traz-nos, pela primeira vez neste projeto, a participação de um agente político. Na voz de Carla Sepúlveda, Vereadora da Educação e Ação Social da Câmara Municipal de Braga, levantamos o véu sobre o papel da gestão da Educação a nível municipal.

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#EP36: “Um vereador da Educação é, efetivamente, um gestor, ou deverá ser, um gestor de projetos educativos. Deve estar centrado no aluno”
Fígura de ondas técnologicas azul

 

À partida, quando pensamos nas câmaras municipais, pensamos, na área da educação, numa atuação que respeita os aspetos mais logísticos e de gestão. Mas, a verdade, é que esta atuação vai mais além do que esses aspetos, tal como explica Carla Sepúlveda. Para a vereadora da CM Braga, o seu trabalho baseia-se em trazer aos alunos projetos educativos que correspondam às suas necessidades. Assista à conversa, na íntegra:

«Esse se calhar foi o meu maior choque quando cheguei à Educação.» 


Pensar em Educação num contexto de gestão de uma câmara municipal pode, por vezes, afastar-nos do que é o objetivo primário: os alunos. A educação dos alunos. Essa é talvez a perspetiva de quem está por fora, pois, quem experiência este ambiente, por dentro, fica admirado com esta leitura. Ou, até mesmo, chocado, como foi o caso de Carla Sepúlveda, a Vereadora da Educação da CM Braga, que afirma que o seu maior choque quando assumiu a Educação foi a preocupação dos demais a nível logístico e de gestão, do que propriamente a nível projetos educativos. 

Esse se calhar foi o meu maior choque quando cheguei à Educação, que achei que ia gerir só projetos educativos e, na realidade, as pessoas falam mais comigo de obras e de equipamentos nas escolas, do que propriamente de alunos e o que é que eu posso fazer pelos alunos. E, foi realmente um bocadinho preocupante, acima de tudo. Porque, todas as reuniões que eu tinha logo no início, toda a gente me vinha falar e porque há um equipamento avariado, ou a escola está com problemas na construção, ou porque falta isto. E, ninguém me falava de projetos educativos.    

A atuação de uma câmara municipal ao nível da educação e, concretamente, o papel de um vereador nesta temática é, nas palavras de Carla Sepúlveda, “ser um gestor de projetos educativos, estar centrado no aluno”.

O que é que eu acho que posso fazer aqui algo diferente e levando à resposta da pergunta: na verdade, é trazer aos alunos projetos educativos que correspondam às expectativas deles, que possam acompanhar a atualidade - uma vez que muitas vezes os currículos são mais estanques, não se podem mexer com a necessidade que deveriam, por força das mutações da sociedade e das áreas tecnológicas, por exemplo. E nós é isso que tentamos fazer. 

As escolas têm, por si só, alguns projetos, mas, que agora, por força também da transferência de competências, é a câmara, enquanto decisor, que tem de levar às escolas aquilo que considera prioritário. Por exemplo, um dos projetos que levam para as escolas é o da robótica. No entanto, as escolas não têm todas os mesmos projetos. Estes, são atribuídos de acordo com o plano de atividades de cada instituição de ensino. 

Nós temos um projeto educativo local, que abrange todos os projetos que o município tem, em todos os pelouros, porque não é só a Educação que tem, no fundo, projetos interessantes para as escolas. Portanto, muitos destes projetos até advêm de financiamentos internacionais, que são candidaturas que fazem. E, portanto, nós neste documento, que é essencial para o nosso dia-a-dia, agrupamos todos os projetos que há e depois vamos distribuindo pelas escolas, à medida das escolhas do plano de atividades que cada escola tem. E, portanto, não temos os mesmos projetos em todas as escolas.

 

Uma relação estreita com as escolas 

Um trabalho que é feito com grande proximidade com as escolas. Numa fase de mudança em que nos encontramos, as escolas perderam alguma autonomia, porque as verbas passaram a ser, no fundo, transferidas para o município e é o município que agora trabalha com as escolas. Contudo, pela relação estreita que assumem, as decisões são sempre discutidas em conjunto. 

Nós não damos passos maiores ou tomamos qualquer tipo de decisão sem que antes nos sentemos todos à mesa, expormos aquilo que é a nossa estratégia e todos se sentirem confortáveis com aquilo que queremos apresentar. Portanto, é sempre uma relação de município com os agrupamentos de escola. […] Debatemos tudo. Como lhe digo, não há qualquer decisão maior que o município tome, sem falar previamente com os seus diretores. E todos têm de estar de acordo

Uma relação que compreende proximidade e, por isso, em que são passíveis de serem reconhecidas algumas frustrações com que os diretores escolares lidam nos dias de hoje. Além da desmotivação que os diretores sabem em que os professores se encontram, a nível de decisões, o diretor também pode sofrer alguma frustração. Carla Sepúlveda esclarece: 

Não têm, muitas vezes, os diretores, sequer, a oportunidade de dizer que não conseguem receber mais, porque isso passa pela DGEST. E, portanto, se a DGEST, muitas vezes, diz que coloca alunos administrativamente, o diretor só tem que os acolher. Portanto, isto é uma frustração, porque há sempre que adaptar os espaços, mas não só. Depois, sabemos que os professores não estão a passar uma fase muito boa, porque estão muito cansados da falta de reconhecimento, da falta de autoridade, do congelamento das carreiras. Portanto, muito desmotivados. Depois sabemos que a burocracia é enorme, queixam-se imenso das horas de trabalho que têm fora da escola.

Razões pelas quais a Vereadora da Educação da CM Braga tem recebido testemunhos de grande desgaste de algumas pessoas que estão à frente das direções, o que considera normal, tendo em consideração o contexto que vivem. Isto, também pelo facto de o ensino em Portugal estar muito estruturado em torno de uma série de burocracias, exigências, relatórios, evidências e pouco sobre uma visão pedagógica. 

Aquilo que devia ser gasto, que é o tempo centrado no aluno, no desenvolvimento do aluno, porque os alunos são todos diferentes uns dos outros, não. Acaba por muitas vezes, ficar aquém, porque a nossa paciência é finita, o nosso tempo também é finito. As pessoas acabam por se queixar que já até a vida pessoal deixam de ter e depois o que é, é a tolerância, é, no fundo, a paciência que é necessária para o dia-a-dia, muitas vezes não é a mesma. Porque, chega-se ao fim de um dia de escola e há não sei quantos documentos que têm de preencher para as estatísticas e é complicado.

As escolas públicas e o ensino profissional 

É, também, a partir desta relação próxima que se perceciona o que poderia ser melhorado. Braga, e talvez como noutras cidades, nota-se o crescimento do ensino privado e, até, com escolas no topo dos rankings. O que seria mais urgente mudar na escola pública para se tornar mais atrativa para os pais obviamente, para os alunos e para os professores? A resposta de Carla Sepúlveda é rápida: 

Para começar, as infraestruturas. Eu acho que nós temos, obrigatoriamente, que olhar para as escolas mais antigas. Temos escolas que não têm intervenções desde quase a sua construção. Vamos fazendo as pequenas manutenções. As escolas fizeram o que podiam. Nós estamos a fazer. Mas, convenhamos, aquilo que é necessário hoje é muito diferente. Eu julgo que se tivéssemos condições mais físicas, que havia uma motivação maior. Porque depois, estamos a falar até na questão, imagine, da informática. Do que é tecnológico. Não adianta dizer que as escolas agora vão ter provas de aferição todas em formatos digitais, se depois não temos internet que responda às necessidades; não temos a nível de infraestrutura de sala fichas suficientes, porque estamos agora com essa preocupação grande; os quadros elétricos, muitas vezes, não comportam. Portanto, tudo isto são dificuldades. E eu acho que passavam por aí.

Já no que respeita o ensino profissional, Carla Sepúlveda partilha que tinha, assim que assumiu funções, um objetivo primeiro: 

Eu disse que dentro destas minhas funções, que tinha um objetivo primeiro para esta área do ensino profissional, era tentar que as pessoas percebessem que o ensino profissional é uma escolha como outra qualquer e que deverá ser sempre este o pensamento, que não é um recurso, que não é a última opção que o aluno tem. Nada disso. É uma escolha como outra qualquer, como quando vamos escolher uma universidade, escolhemos aquela que nos oferece o curso que mais se identifica com a nossa escolha e as escolas profissionais, ou o ensino profissional é a mesma coisa. Portanto, eu tudo tenho feito para abraçar todas as oportunidades que tenho de fazer jus ao ensino profissional. Vou apoiando projetos, das escolas que me têm procurado, vou tentando, anualmente, fazer um evento diferente e cada vez maior.

Independentemente do caminho académico que percorrem, o ideal é o jovem encontrar um desafio profissional à medida das suas expectativas. Hoje, temos acesso a dados que nos mostram que muitos jovens portugueses terminam os estudos em Portugal e, depois são empregados no estrangeiro, acabando por mudarem a vida para esse país. A este nível, o que poderá um concelho fazer para reter o talento no seu país? 

Condições financeiras. Muitos destes jovens, o que procuram é um salário à altura das suas expectativas. Nós sabemos disso, porque ninguém vai para fora – a não ser gosto pessoal, que as experiências internacionais são todas muito válidas até para o crescimento pessoal, é importante. Mas, eu acredito, que se as condições financeiras destas empresas que para cá vêm corresponderem àquilo que pagam lá fora, noutros países, os nossos jovens não saem

Assista ao episódio, na íntegra, no YouTube, Spotify, iTunes ou Google Podcasts.

Adriana Ribeiro

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